A nova política de imigração dos EUA pode afetar turistas brasileiros?
February 3, 2025
A nova política de imigração dos EUA pode afetar turistas brasileiros? Veja o que dizem especialistas em vistos
Documentos exigidos continuam os mesmos, mas critérios para autorização de entrada devem ser mais rígidos
Por Eduardo Maia, O Globo — Rio de Janeiro
03/02/2025
Quando Donald Trump ocupou a presidência dos Estados Unidos pela primeira vez, o número de vistos negados para brasileiros bateu recorde, chegando a 18% do total em 2018. Nesta segunda passagem do republicano pela Casa Branca, a tendência pode se repetir, de acordo com especialistas em migração internacional, com um esperado aumento no rigor na triagem de pessoas habilitadas a entrar no país.
— Ainda é cedo para prever como será o cenário nos próximos anos, mas baseados nas primeiras ações do governo e no histórico da primeira administração Trump, podemos esperar que o número de negativas de solicitações de vistos para brasileiros volte a crescer — afirma Diana Quintas, sócia da empresa especializada em vistos Fragomen.
Para a advogada Liz Dell'Ome, sócia do escritório Dell'Ome Law Firm, que atende pessoas interessadas em imigrar ou visitar o país, os viajantes também podem esperar um aumento no tempo para agendar uma entrevista nos consulados e até mesmo filas maiores nos postos de imigração, como os dos aeroportos americanos:
— Uma das ordens executivas assinadas pelo presidente em seus primeiros dias determina explicitamente o aumento na triagem das pessoas que solicitam vistos temporários para o país. E os consulados e o serviço de controle de fronteiras já estão alinhados com essa diretriz, que pode sim aumentar o tempo de espera do viajante.
Procurada pelo GLOBO, a Embaixada dos Estados Unidos em Brasília respondeu que, no momento, não há “nenhum anúncio a fazer com relação a mudanças nos processos de solicitação de visto para os Estados Unidos”.
A seguir, algumas dicas importantes para quem vai solicitar um visto para os Estados Unidos ou tem viagem marcada para o país.
Que documentos levar para a entrevista?
A lista básica de documentos exigidos para quem solicita visto de entrada nos Estados Unidos continua a mesma. Os viajantes que desejam entrar no país como turistas, usando as categorias B1 / B2, as mais comuns, precisam apresentar obrigatoriamente um passaporte válido por seis meses, fotos 5x5, o formulário DS-160 preenchido (pela internet) e o pagamento da taxa, no valor de US$ 185 (aproximadamente R$ 1.085). Outros tipos de visto, como para estudo ou trabalho, precisam de documentos mais específicos, listados no site do Departamento de Estado americano.
Na mesma página, o governo americano sugere que o visitante leve “documentos complementares", sem dizer exatamente quais seriam. De acordo com especialistas em imigração, o mais importante é apresentar provas de forte ligação com o país de origem.
Neste sentido, o viajante deve levar documentos que demonstrem vínculo empregatício no Brasil, como contracheque, contratos de trabalho ou que comprovem a atividade de empresário ou profissional liberal; títulos de propriedades, como imóveis, empresa ou mesmo automóveis; ou que mostrem a necessidade de voltar ao país para concluir os estudos, como matrícula de faculdade ou escola. Segundo Diana, comprovante de renda, como extratos bancários e faturas de cartão de crédito, ajudam a demonstrar a capacidade de custear a viagem, mas não necessariamente comprovam os laços com o país de origem.
— O importante é demonstrar, no momento da entrevista, que o viajante tem forte laços com o Brasil. Neste momento, a grande preocupação do governo americano é ter a certeza de que não há o risco de o turista não querer voltar para o seu país após o período de estadia nos Estados Unidos — reforça a especialista.
Como se comportar na entrevista ou na imigração?
Estar frente a frente com o agente do governo americano, seja na entrevista no consulado ou no posto de controle de fronteiras, é sempre um momento de tensão para os viajantes. E para evitar que o sonho da viagem termine logo no começo, os especialistas dão algumas dicas de comportamento.
— A regra número um é nunca mentir. Os agentes são treinados para detectar mentiras dos viajantes e quem é pego praticamente tem o visto negado na mesma hora, ou, se estiver entrando no país, corre grande risco de já ser processado e deportado ali mesmo — explica Rodrigo Costa, CEO da Viva América, outra assessoria de imigração sediada nos EUA. — Isso vale também para a hora de escolher o tipo de visto. Não tente entrar no país com um visto que não se aplica a seu objetivo de viagem.
Outra dica importante, mas muitas vezes esquecidas por causa do nervosismo do momento, é só responder ao que for perguntado pelo agente.
— Os Estados Unidos são um país muito rigoroso e objetivo. Então, responda de forma clara e direto as perguntas dos agentes. Falar demais pode levar, sem querer, a contradições ou gerar confusão para o agente, e isso pode prejudicar o viajante — reforça Liz Dell’Ome.
Uma vez com o visto, o visitante deve se lembrar que o documento permite a viagem, mas não garante a entrada em território americano e que o agente de controle de fronteiras tem o poder de mandar o visitante de volta a seu país de origem. Por isso é importante manter a calma ao conversar com o
— Com o maior rigor que se espera a partir de agora, é muito importante o viajante apresentar a passagem de volta, a reserva de hospedagem e algo que comprove que está viajando a lazer, como ingressos para parques temáticos ou outras atrações já comprados. Neste momento o agente também pode pedir para saber quanto dinheiro o viajante está levando e se ele tem condições de arcar com a viagem — explica Diana Quintas.
O agente de fronteira pode também pedir para ver o conteúdo do celular do viajante, inclusive com acesso a senhas das redes sociais. Criada no primeiro mandato de Donald Trump, essa medida não foi abolida por Joe Biden e pode voltar com mais força agora.
— Não se recuse a entregar o celular e passar a senha para o agente de fronteira. Ele tem o direito de pedir o acesso e quem negar corre o risco de ser mandado embora na hora — alerta Rodrigo Costa.
As regras americanas podem interferir nos países vizinhos?
Atualmente, brasileiros precisam de visto para visitar México e Canadá, mas aqueles que já contam com visto para os Estados Unidos ficam isentos dessa cobrança. Essa situação não deve mudar, de acordo com os especialistas. Mas, a médio prazo, a "linha dura" do novo presidente americano pode pressionar os vizinhos a se tornarem mais rígidos em seus próprios processos de emissão de vistos. Especialmente no México, cuja fronteira está no centro das atenções da administração Trump.
— O Brasil acabou entrando na rota de migrantes de outros continentes que entram nos EUA pelo México. Por isso os brasileiros voltaram a precisar de visto para entrar no México. Com a pressão exercida pelo governo americano, é de se esperar que essa exigência seja mantida e que o processo se torne mais rígido do que é hoje.
Em relação a brasileiros com passaportes europeus, ela acredita que a situação atual será mantida. Hoje, quem tem cidadania da União Europeia precisa apenas de uma autorização virtual de viagem (o ETA), que deve ser solicitada pela internet alguns dias antes da viagem.